quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Sinais dos tempos II


Alguns dias depois de participar na apresentação do projecto “Um Milhão de Líderes” em Portugal, na Faculdade de Medicina Dentária, no passado mês de Junho, comentava com um colega de ministério acerca das incidências da reunião, particularmente a intervenção de Marcos Witt, baseando-se no texto bíblico de Mat. 20:20-28.

A sua mensagem tinha por pano de fundo a liderança na igreja, em que a figura do bom pastor (Jo. 10:11) é evidenciada, contrastando com os supostos pastores que privilegiam mais a posição do que o serviço às ovelhas. Falámos também de um outro aspecto que tem a haver com a visibilidade, os títulos, que a alguns preocupa sobremodo nestes dias. Aqui o meu amigo lembrou-se de um site que recentemente tinha visto, onde um certo líder apresentava um rol infindável de títulos, cargos, nomeações, entre outros. Um espanto! Pessoalmente não tenho nada contra a “folha de serviço” de cada um, conseguida por mérito próprio, certamente. Mas a sua ostentação, confesso que me deixa preocupado. Depois há também aqueles que se sentem incomodados se não forem reconhecidos como tal. Certa vez li nas Selecções do Reader’s Digest uma frase muito interessante: “Não te apresses a mostrar aquilo que sabes e o que possuis, espera que te peçam para o fazeres”.

Se alguém podia “puxar dos galões” e mostrar as suas “credenciais” era o apóstolo São Paulo. Henry Gariepy, no seu livro “100 Portraits of Christ”, referiu: “O Apóstolo Paulo podia considerar-se a si próprio a prima donna da primitiva igreja”. Quando escreve à igreja que está na capital do Império Romano, ele apresenta-se do seguinte modo: “Paulo, servo de Jesus Cristo” (Rom. 1:1). Pedro, um dos doze escolhidos por Jesus, também não manifesta qualquer pretenso reconhecimento por algum título na liderança da igreja, pois assume-se como “Simão Pedro, servo…” (II Pd. 1:1). É evidente que a maior preocupação de Paulo não era exibir títulos ou cargos para impressionar, mas servir de exemplo. Quando ele está a falar para os anciãos em Éfeso, procura ensiná-los como pastorear o rebanho, como ser um exemplo (At.20:18,19). Numa outra ocasião disse: “Sede meus imitadores….” I Cor.11:1). Uma cuidadosa observação sobre o seu ministério, mostra o quanto precisamos de ser seus imitadores, tê-lo como modelo. E de que forma Paulo pode servir de modelo para nós? Na humildade, por exemplo, quando lemos: “A mim, o mínimo de todos os santos…”(Ef.3:8), “servindo ao Senhor com toda a humildade” (Actos 20:19). Quando às suas qualificações, atribui inteiro mérito à graça que lhe “ foi dada…” (Ef.3:8). Sim, se havia alguém que podia orgulhar-se na carne, que podia apresentar todo um background cultural, de cidadania, de conhecimento e zelo religioso, era este homem. O que fez ele com tudo isto? Ele próprio nos responde: “Mas o que para mim era ganho reputei-o perda por Cristo (Filip.3:3-8). É verdade que ele o fez para “receber a Cristo”. Mas a sua postura era idêntica em tudo. Se havia alguém que podia evidenciar-se com base no mérito próprio, Paulo era o mais qualificado.

A questão da visibilidade, da notoriedade, dos títulos, dos cargos relevantes, do reconhecimento pela posição não é coisa nova, pois já no tempo de Jesus havia tais pretendentes. Numa certa ocasião, dois dos seus discípulos que ambicionavam por promoção e posição de destaque no Reino de Deus, os filhos de Zebedeu, para alcançar a sua pretensão até puderam contar com a ajuda da sua mãe. Aproximando-se do Mestre disse: “Concede que estes meus dois filhos se sentem, um à tua direita e outro à tua esquerda, no teu reino” (Mateus 20:20,21).

Jesus deita por terra as pretensões destes dois discípulos com uma expressão surpreendente: “Não será assim entre vós; antes, qualquer que entre vós quiser tornar-se grande, será esse o que vos sirva.” E mais, “E qualquer que entre vós quiser ser o primeiro será vosso servo”. Palavras duras, difíceis de encaixar se pensarmos que elas são precisamente o oposto daquilo que o mundo ambiciona: prazer, posses, fama, sucesso. A nossa maior necessidade hoje é de pessoas preocupadas e comprometidas em servir os outros, à semelhança de Jesus: “assim como o filho do homem não veio para ser servido…”. Imagine, o Rei dos Reis, um servo! Que paradoxo!

5 comentários:

  1. A mensagem do Marcos Witt foi o colocar do dedo na ferida. Como toda a ferida, também esta tem de ser desinfectada para evitar infecções e tornar o Corpo de Cristo mais saudável. Bom post. Abraço

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  2. Sem dúvida que o "puxar de galões" existe desde sempre e cada vez mais se vê, e pior de todos é o "puxar dos galões" fictícios para se valer...
    Muito bom post.

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  3. Concordo plenamente, e o pior ainda é quando nas igrejas as pessoas que não são formadas ou que não têm alguma posição social de relevo, não são consideradas para servir o Senhor, por muita vontade que tenham e por muito que se comprometam.

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  4. Abel, esse assunto da ostentacao de titulos tem estado na minha mente com a vontade imensa de escrever sobre isso,mas estou contente que o Abel abordou e muito bem o assunto,pois e preocupante.
    Junto com essa ostentacao vem o palavriado que para falar ou ouvir certas pessoas e melhor trazer o dicionario debaixo do braco.
    Gostei muito da expressao que a Sarah Catarino usou desde a Polonia onde foi assitir e falar numa conferencia ,'Deus usou seste vasinho;
    Ha por ai vasos tao "cheios" que Deus ja nao pode la por nada e muito menos usar
    Sou pelo conhecimento e formacao ,o melhor que se possa adquirir,mas nao que isso faca uma aureola autoproclamada ,que impede Deus de agir ou usar os tais
    Carmina

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  5. Pastor:
    No meu ministério de evangelização, principalmente naquele que se encontra direccionado aos seguidores do Espiritismo Kardecista, percebi claramente como "ostentar sabedoria" pode conduzir o ser humano à ausência de Deus.
    Qualquer um de nós, Cristãos, deve estar sempre pronto a receber sabedoria do Alto, e não achar que somos o google, porque quando nos deixar-mos dominar pelo "eu sei tudo", como diz a Irmã Carmina, Deus não poderá colocar lá mais nada!
    Não há maior fonte de conhecimento do que depender de Deus para aprender a cada dia!
    Sejamos, por "vasinhos" esvaziados a cada dia para que Deus nos possa encher!
    Maria Helena

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